- A cada dia mais nos encontramos imersos no barulho. O silêncio é, hoje mais do que nunca, um bem escasso. Estamos já acostumados a viver entre os ruídos da toda espécie; aos ruídos habituais da natureza ou aos domésticos, acrescentamos os necessários ruídos industriais das oficinas e fábricas. Avenidas e praças, pequenos povoados e grandes cidades são ruidosos, e o silêncio, como um perseguido, tem de se refugiar em lugares ermos e solitários de chácaras e aldeias, baixadas e colinas, de onde também é expulso nos fins de semana.Assusta-nos o silêncio? Tudo faz pensar que sim: quando entramos em casa, deixando para trás o ruído da rua, não damos conta de nos acostumar à oásis de paz e silêncio do lar; temos logo de ligar o rádio, o aparelho de som ou o televisor, porque no silêncio teríamos que nos confrontar com a nossa própria individualidade.O ruído, o vozerio ou o fragor nos projetam para “fora de nós”; o silêncio nos coloca frente a frente conosco mesmos, e isso não nos parece interessar.No silêncio, nos encontramos, e no silêncio podemos encontrar a Deus. A reflexão, a meditação e a contemplação precisam de silêncio. Deus não está nem no espantoso trovão nem no relâmpago intimidador; Deus está na brisa suave que reconforta o corpo e serena o espírito.Em nossas celebrações litúrgicas, a cada dia deixamos menos tempo ao silêncio, como se ele também a nós assustasse: canto, oração recitada, leitura, música de acompanhamento… E o silêncio?Tanto quem preside, como toda a assembléia celebrante, devemos recobrar e potencializar o valor do silêncio. A Quaresma é tempo oportuno para isso. Temos que nos educar à pedagogia do silêncio; que toda a assembléia se encontre unida, e também reunida, no silêncio.Silêncio de oração. Silêncio de contemplação. Silêncio de ação de graças. Silêncio de exame de consciência. Silêncios cheios da ação do Espírito em nós.Há silêncios eloqüentes e há os angustiantes.
Há silêncios pesados e há os gratificantes.
Há silêncios cheios e há os vazios.
Que em nossas celebrações os silêncios sejam silêncios cheios de Deus.
Dom Washington Cruz, CP
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011
O silêncio
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