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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O “Eis que venho” de Jesus e o nosso






  • Eis que venho para fazer tua vontade” (Heb 10, 5-9;  Sl 39)
    Esta passagem da escritura encontrada nos salmos e retomada na carta aos Hebreus 10,5-9 que é carta com maior conteúdo sobre espiritualidade reparadora, pois tenta fazer a passagem do antigo sacrifício para o novo e definitivo de Jesus como vítima única de reparação tanto para o antigo como para o novo testamento. Esta passagem é também o cerne por assim dizer da espiritualidade de oferta oblativa dos padres dehonianos que tanto influenciou na nossa espiritualidade.
    O Eis que venho de Jesus é também o nosso, um coração que queira se dar a Deus em nossa comunidade tem que, no mínimo ter este sentimento de Jesus, de não querer ou desejar outra coisa se não a de fazer a vontade única de Deus sem mais nem menos, é o mínimo que podemos ofertar ao pai, a nossa liberdade, colocar-se em total disponibilidade em suas mãos  e a favor dos irmãos e da missão formando com ele um único coração o que chamamos de “coração indiviso” ao  modelo de almas esposa, uma única coisa poderia amedrontar um filho da busca, o de pensar em não estar fazendo a única e absoluta vontade de Deus, mais nada poderia tirar nosso sossego, pois “Nele temos tudo plenamente” (Cl 2,8).
    O nosso eis que venho é a rendição plena e total ao Senhorio de Jesus, o esvaziamento pleno da minha vontade para assumir a Dele, à qual livremente me entrego.
    Esse deveria sem dúvida, ser o primeiro passo para alguém que quisesse fazer caminho conosco, trilhar o nosso itinerário sem esta rendição, sem esta disposição não há como caminhar. Em Sto Agostinho que é nosso baluarte, encontramos bem claro esta disposição depois de anos de luta, depois de Mônica ter derramado tantas lágrimas em seu favor, depois de muito ouvir as pregações do bispo Ambrósio é que ele se rendeu ao batismo e conseqüentemente a Igreja, ao ponto de aí sim, poder associar-se a outros já convertidos, para iniciar a obra à qual Deus o enviara a formar, uma vida fraterna, pautada por uma entrega total a Jesus como Senhor e centro absoluto da vida daqueles que com ele ajudaram a fundar, é risco e sempre será, acolher alguém no seio da comunidade sem que antes tenha passado por esta experiência da entrega total a Deus, pois a assembléia do Senhor é formada por aqueles que buscam com sinceridade agradar-lhe unicamente, nenhuma outra motivação pode estar no centro da decisão.
                          


  •                                                              Dimas pires

    Para que o mundo seja salvo


    • “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não será condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus” (Jo 3, 16-18).
      “A missão do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem uma destinação universal. Seu mandado de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho. A Igreja sabe, por revelação de Deus e pela experiência humana da fé, que Jesus Cristo é a resposta total, superabundante e satisfatória às perguntas humanas sobre a verdade, o sentido da vida e da realidade, a felicidade, a justiça e a beleza. São as inquietações que estão arraigadas no coração de toda pessoa e que pulsam no mais profundo da cultura dos povos. Por isso, todo sinal autêntico de verdade, bem e beleza na aventura humana vem de Deus e clama por Deus” (DAp 380).
      Não há campo de atividade humana que fique fora do alcance do amor de Deus e de Seu desígnio universal de salvação, e a Igreja, com plena consciência de seus deveres, quer alcançar a todos e chegar aos mais distantes recantos onde se encontre um grito de socorro ou um anelo de salvação.
      A V Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe identificou alguns rostos sofredores que clamam atenção especial da Igreja e de toda a sociedade, dentre tantos desafios existentes. São as Pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, os Migrantes, os Enfermos, os Dependentes de drogas e os Detidos em prisões. E nos deparamos a cada dia com vários desses rostos sofredores! Uma primeira reação pode ser o acomodamento, com o qual apenas nos rendemos diante das dificuldades práticas. Sempre existiram tais problemas! Outra, infelizmente muito comum, é a quantidade de projetos teóricos, leis e pretensas reformas que não saem do papel.
      Mas existem muitas pessoas, quais formiguinhas trabalhadoras, dia e noite, que fazem o que lhes é possível. Na área metropolitana de Belém, tenho encontrado muitas famílias que acolhem pessoas vindas do interior à procura de trabalho, e o fazem graciosamente, com grande generosidade. Nossos grupos e movimentos pastorais que trabalham com o povo que vive da rua testemunham também a solidariedade que brota entre pessoas que perderam tudo. Parece brotar do barro um fiapo de relações humanas, quem sabe esboçadas em sorriso! Lá de dentro, vem à tona a dignidade nunca perdida aos olhos de Deus. Para a saúde, há inúmeras iniciativas, quais sejam as de cuidados básicos e simples. O que se faz por intermédio da Pastoral da Criança é reconhecido por toda a sociedade! Pastoral Carcerária para nós significa presença diuturna, com visitas semanais a todos os presídios, com um esquadrão de homens e mulheres, cujas palavras e gestos semeiam cura e libertação. E os drogados? Já se delineia a instalação da Fazenda da Esperança em nossa Arquidiocese, além de centros já existentes. E as respostas a tais rostos que doem em nós e na sociedade, dadas por pessoas desconhecidas, anônimas do bem, cujos gestos de amor serão reconhecidos no dia do exame final? A elas também o reconhecimento!
      Ninguém passe em vão ao nosso lado! Os rostos sofridos são expressão de um mistério mais profundo, cujo nome é pecado! Trata-se do rompimento de um relacionamento de amor, que tem a idade da eternidade, no seio da Trindade Santíssima, destinado a envolver a todos os homens e mulheres de todos os tempos. Pecar é não aceitar a proposta de amor que vem do próprio Deus! Pecar é embotar a própria vida, buscando apenas a si mesmo. As consequências têm rosto! Outras faces do mesmo drama estão, quem sabe, escondidas atrás de fachadas muito bem acabadas de casas ou de rostos maquiados. Também elas hão de ser identificadas, para que nenhuma situação humana fique alheia ao nosso amor, como diante de Deus não passam indiferentes. E como sabemos que o pecado corrói o que existe de melhor no ser humano, a virtude, cultivada em todas as suas dimensões, seja tarefa cotidiana, para acolher o dom da salvação que a todos se destina.
      Na Solenidade da Santíssima Trindade, renova-se a convicção de que os cristãos vivem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Em nome do Pai olhamos para todas as pessoas humanas e as reconhecemos como membros da única família dos filhos de Deus. O amor do Pai misericordioso se derrame sobre toda a humanidade. Cabe a nós que vivemos em Seu nome sermos sinais para os que se encontram mais afastados. Em nome do Filho amado, que se inclinou compassivo, assumindo sobre si as nossas dores, enfermidades e pecados, Senhor e Salvador, nós assumimos a missão de proclamar Seu nome e Sua graça. Sua presença, reconhecida em todas as faces. Sua Palavra, queremos que seja levada a todos, como Evangelho de Salvação! Em nome do Espírito Santo de amor, as labaredas acesas em Pentecostes espalhem o incêndio de um mundo diferente, possível e desafiador. Não deixaremos desperdiçada uma só de suas inspirações! Em nome da Trindade Santa, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!
      Dom Alberto Taveira Corrêa
      Arcebispo de Belém – PA

    A Maior História de Amor

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    Antes que Eu criasse o mundo e todas as coisas, Eu já pensava em você. Eu já o conhecia pelo nome e desejava que você viesse à vida. Queria que você participasse da Minha vida e desfrutasse de toda a riqueza da Minha divindade...
    Foi por isso que eu o criei. Eu teci no ventre de sua mãe, cuidadosamente, e o amei com amor eterno. Eu o fiz à Minha semelhança para que você pudesse compartilhar Comigo de todos os Meus bens inefáveis. Dei-lhe faculdades e potências que não coloquei em nenhum dos outros seres criados: inteligência, vontade, memória, consciência, capacidade de amar, de sonhar, de sorrir, de chorar, de cantar, de falar...Não sei se você já percebeu que é o único ser capaz de sorrir. As pedras não sonham como você, as árvores não falam como você e os animais não podem sorrir e cantar como você. Só a você Eu permiti que fosse assim tão cheio de dons, porque só você foi feito à Minha imagem. Quando Eu quis gerar você, olhei para Mim mesmo e deixei que uma centelha do Meu ser lhe desse a vida.
    Eu o fiz para mim. Eu o fiz para viver Comigo sempre, na terra e no céu. Eu sou o seu Senhor. Você é meu. Sou louco de amor por você e não aceito perdê-lo de forma alguma, porque você é Minha criatura predileta, Minha glória sobre a terra Minha maior honra.
    Eu o amei tanto que quis dar o meu maior Dom: a liberdade. Meu amor por você exigia que Eu o fizesse livre, capaz de decidir pela inteligência, e não escravo dos instintos como os animais irracionais. O amor exige que se dê a liberdade! Eu sabia que você poderia usar mal dessa liberdade. Eu sabia  sim que você poderia até Me rejeitar, Me abandonar e não querer ouvir a Minha voz e os Meus conselhos...Mas, se não lhe desse a liberdade, você não seria Minha imagem; seria apenas como um robô ou uma marionete. Por isso Eu o fiz livre.
    Na verdade, fiquei desesperado quando você Me rejeitou, Me abandonou e achou que podia ser feliz sem o seu Criador. Fiquei angustiado quando você matou em si mesmo a vida eterna que lhe dei, separando-se de Mim que sou a fonte da vida. Sofri demais quando você virou-Me as costas e abandonou o céu e a Mim para sempre.
    Então, no meu amor infinito por você, vim ao mundo para salvá-lo. Eu me fiz como você, de carne e osso. Nasci de uma santa mulher, pobre e humilde, para resgatá-lo. Eu assumi a sua natureza humana e nela escondi a minha divindade para poder falar com você e mostrar-lhe ansiosamente o caminho da vida.
    E depois, depois de lhe Ter mostrado todo o Meu amor por você, com Minhas palavras e milagres, quis amá-lo até o extremo sacrifício. Eu Me deixei matar em seu lugar, conscientemente, para que a minha morte destruísse a sua, e a Minha ressurreição lhe desse a vida eterna outra vez. Nunca ninguém sofreu e amou tanto quanto Eu sofri por você e o amei. O criador morreu por Sua criatura. Como disse uma vez ao Meu querido filho Santo Antônio: “Eu vim até você para que você pudesse vir a mim”. E mais ainda: Para ficar com você para sempre, Eu Me fiz pão e vinho. Sei que você não pode compreender o milagre da Eucaristia, mas eu o fiz para poder ficar com você. Quando se ama alguém, não se consegue ficar longe da pessoa amada. Fiz tudo isso por você, por amor a você.
    Mas, infelizmente, você não reconhece o Meu amor. Você ainda me despreza e abandona. Eu lhe ofereço a Minha vida nos Evangelhos, mas você prefere outras leituras vazias e pobres. Eu lhe ofereço o Meu próprio Corpo imolado e Meu Sangue derramado, testemunhas do meu amor, e você os despreza totalmente: “Isso é coisa de velhos e de crianças...” Eu lhe ofereço a Minha presença viva em todos os sacrários, mas você não acredita que estou ali... O que mais me fere é sua ingratidão e indiferença. Você entra na Minha casa, a Igreja, e não Me olha, não Me fala, não se une a Mim... Sua desconfiança Me sangra o coração. E eu... esperando ansiosamente, desejando ao menos um minuto receber a retribuição do seu amor. Mas você está cego, surdo e mudo para Mim. O mundo matou o meu amor em você. O pior de tudo é que por causa disso você perdeu a paz, perdeu o sentido da vida e vive agora sem rumo, triste e sofredor. Eu derramei todo o Meu sangue na cruz e morri de dor, para que os eus pecados fossem perdoados, mas você despreza o Meu perdão, despreza os Meus sacerdotes e o sacramento da penitência. Como você é ingrato Comigo! Mas Eu continuo aqui a esperá-lo; nunca Me cansei porque você é Meu e tenho ciúme de você. Sei que um dia você virá. Quando a “mentira do mundo” cair a seus pés, você se lembrará de Mim. Então, como aquele Pai, Eu farei uma grande festa para você, pois como entendeu perfeitamente o Meu querido Agostinho de Hipona: “Eu o criei para Mim, e o seu coração vive inquieto enquanto não repousar em Mim.”



    Que pecados nos impedem de comungar?



    Para que um pecado seja mortal requerem-se três condições
    A Igreja nos ensina que não podemos comungar em pecado mortal sem antes nos confessar. Pecado mortal é aquele que é grave, normalmente contra um dos Dez Mandamentos de Deus: matar, roubar, adulterar, prostituir, blasfemar, prejudicar os outros, ódio, etc.. É algo que nos deixa incomodados...
    Veja o que diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC) sobre isso:
    §1856 - O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmente no sacramento da Reconciliação:
    “Quando a vontade se volta para uma coisa de per si contrária à caridade pela qual estamos ordenados ao fim último, há no pecado, pelo seu próprio objeto, matéria para ser mortal... quer seja contra o amor de Deus, como a blasfêmia, o perjúrio etc., ou contra o amor ao próximo, como o homicídio, o adultério, etc. Por outro lado, quando a vontade do pecador se dirige às vezes a um objeto que contém em si uma desordem, mas não é contrário ao amor a Deus e ao próximo, como, por exemplo, palavra ociosa, riso supérfluo etc., tais pecados são veniais” (S. Tomás, S. Th. I-II,88,2).
    §1857 – Para que um pecado seja mortal requerem-se três condições ao mesmo tempo: “É pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena consciência e deliberadamente” (RP 17).
    §1858 – A matéria grave é precisada pelos Dez Mandamentos segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: “Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe” (Mc 10,19). A gravidade dos pecados é maior ou menor; um assassinato é mais grave do que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas entra também em consideração. A violência exercida contra os pais é em si mais grave do que contra um estrangeiro.
    §1859 – O pecado mortal requer pleno conhecimento e pleno consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus. Envolve também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma escolha pessoal. A ignorância afetada e o endurecimento do coração (cf. Mc 3,5-6; Lc 16,19-31) não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado.
    §1860 – A ignorância involuntária pode diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma falta grave, mas supõe-se que ninguém ignore os princípios da lei moral inscritos na consciência de todo ser humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e perturbações patológicas. O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave.
    §1861 – O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.
    §1862 – Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento.
    Felipe Aquino
    felipeaquino@cancaonova.com
    (Fonte – Canção Nova)

    domingo, 21 de agosto de 2011

    Ele me consagrou pela unção


    • Isaías 42, 1-4.6-7; Atos 10, 34-38; Mateus 3, 13-17
      O próprio Jesus deu uma explicação do que lhe aconteceu no batismo no Jordão. Ao voltar, na sinagoga de Nazaré aplicou a si mesmo as palavras de Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim: me consagrou com a unção…». O mesmo termo de unção é utilizado por Pedro na segunda leitura, falando do batismo de Jesus: «Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder».
      Trata-se de um conceito fundamental para a fé cristã. Basta dizer que o nome Messias em hebreu e Christos em grego significam exatamente isso: Ungido. Nós mesmos, diziam os antigos Padres, recebemos o nome de cristãos porque fomos ungidos à imitação de Cristo, o Ungido por excelência. A palavra «ungido», em nossa linguagem, tem muitos significados, não totalmente positivo. Na Antigüidade, a unção era um elemento importante da vida. Ungiam-se com óleo os atletas para estarem soltos e ágeis nas corridas, e se ungiam com óleo perfumado homens e mulheres para ter o rosto belo e resplandecente. Atualmente, com estes mesmos objetivos, existe à disposição uma infinidade de produtos e cremes em grande parte derivados de diferentes tipos de óleos.
      Em Israel o rito tinha um significado religioso. Ungiam-se os reis, os sacerdotes e os profetas com um ungüento perfumado e este era o sinal de que estavam consagrados ao serviço divino. Em Cristo, todas estas unções simbólicas se tornam realidade. No batismo no Jordão, Ele é consagrado rei, profeta e sacerdote eterno por Deus Pai. Não com um óleo físico, mas com o óleo espiritual que é o Espírito Santo, “o óleo da alegria”, como o define um salmo. Isso explica por que a Igreja dá tanta importância à unção com o santo crisma. Existe um rito de unção no batismo, na confirmação e na ordenação sacerdotal; existe uma unção dos enfermos (antigamente chamado de “extrema-unção”). É porque através destes ritos se participa na unção de Cristo, isto é, em sua plenitude de Espírito Santo. Uma pessoa é literalmente “cristã”, isto é, ungida, consagrada, pessoa chamada – diz Paulo – «a difundir no mundo o bom odor de Cristo».
      Procuremos ver o que tudo isso diz aos homens de hoje. Atualmente, está na moda falar de aromaterapia. Trata-se do emprego de óleos essenciais (ou seja, os que exalam perfume) para a manutenção da saúde ou para a terapia de alguns transtornos. A internet está cheia de anúncios de aromaterapia. Não se contenta em promover com eles o bem-estar físico. Existem também «perfumes da alma», por exemplo «o perfume da paz interior».
      Não corresponde a mim emitir um juízo sobre esta medicina alternativa. Contudo, vejo que os médicos convidam a desconfiar desta prática que não está cientificamente provada e que inclusive implica, em alguns casos, contra-indicações. O que desejo expressar é que existe uma aromaterapia segura, infalível, que exclui toda contra-indicação: a que está feita à base do aroma especial, do ungüento perfumado, que é o Espírito Santo!
      Esta aromaterapia feita de Espírito Santo cura as doenças da alma e às vezes, se Deus quer, também as do corpo. Há um canto spiritual afro-americano no qual não se faz mais que repetir continuamente estas poucas palavras: «Há um bálsamo em Gilead que cura as almas feridas» (There is a balm in Gilead / to make the wounded whole…). Gilead, ou Galaad, é uma localidade famosa no Antigo Testamento por seus perfumes e ungüentos (Jr 8, 22). O canto prossegue dizendo: “Às vezes me sinto desanimado e penso que tudo é em vão, mas então o Espírito Santo reaviva a minha alma” (Sometimes I feel discouraged and think my work’s in vain but then the Holy Spirit revives my soul again). Gilead é para nós a Igreja, e o bálsamo que cura é o Espírito Santo. Ele é o rastro de perfume que Jesus deixou ao passar por esta terra.
      O Espírito Santo é especialista nas doenças do matrimônio. O matrimônio consiste em dar-se um ao outro: é o sacramento de tornar-se dom. E o Espírito Santo é o dom feito pessoa: a doação do Pai ao Filho e do Filho ao Pai. Onde Ele chega, renasce a capacidade de tornar-se dom e, com ela, a alegria e a beleza de viver juntos.
      O filósofo Heidegger lançou um juízo alarmado sobre o futuro da sociedade humana: “Só um Deus pode nos salvar”, disse. Pois eu digo que este Deus que pode nos salvar existe: é o Espírito Santo. Nossa sociedade precisa de doses massivas de Espírito Santo.
      Frei Raniero Catalamessa – Pregador da Casa Pontifícia

    A ternura de Jesus para com os pecadores


    • A parábola é introduzida com estas palavras: «Costumavam aproximar-se de Jesus os publicanos e os pecadores para escutá-lo. E os fariseus e os escribas murmuravam entre si: ‘Esse acolhe os pecadores e come com eles’. Então Jesus lhes disse esta parábola…» (Lc 15, 1-2). Seguindo esta indicação, queremos refletir sobre a atitude de Jesus para com os pecadores, contemplando o Evangelho em seu conjunto, movidos pelo objetivo que nos fixamos neste comentário aos Evangelhos da Quaresma, de conhecer melhor quem era Jesus, o que sabemos historicamente d’Ele.
      É conhecida a acolhida que Jesus reserva aos pecadores no Evangelho e a oposição que isso causou por parte dos defensores da lei, que o acusavam de ser «um comilão e um beberrão, amigo de publicanos e pecadores» (Lc 7, 34). Um dos considerados historicamente como dos melhores discursos de Jesus enuncia: «Não vim para chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17). Sentindo-se por Ele acolhidos e não julgados, os pecadores o escutavam com alegria.
      Mas quem eram os pecadores, que categoria de pessoas era designada com este termo? Alguém, na tentativa de exonerar os adversários de Jesus, os fariseus, sustentou que com este termo compreende «os transgressores deliberados e impenitentes da lei», em outras palavras, os criminosos, os fora-da-lei. Se assim fosse, os adversários de Jesus tinham toda a razão de escandalizar-se e de considerá-lo como uma pessoa irresponsável e socialmente perigosa. Seria como se hoje um sacerdote freqüentasse habitualmente mafiosos e criminosos e aceitasse seus convites para comer, sob o pretexto de falar-lhes de Deus.
      Na verdade, as coisas não são assim. Os fariseus tinham uma visão própria da lei e do que é conforme ou contrário a ela, e consideravam réprobos todos os que não se conformavam com sua rígida interpretação da lei. Pecadores, em resumo, eram para eles todos os que não seguiam suas tradições e imposições. Seguindo a mesma lógica, os Essênios de Qumran consideravam os próprios fariseus como injustos e transgressores da lei! Também ocorre hoje. Certos grupos ultra-ortodoxos consideram automaticamente como hereges todos que não pensam exatamente como eles.
      Um eminente estudioso escreve ao respeito: «Não é verdade que Jesus abria as portas do reino a criminosos empedernidos e impenitentes, ou negava a existência de ‘pecadores’. Jesus se opôs às acusações que se levantavam no corpo de Israel, pelas quais alguns israelitas eram tratados como se estivessem fora da aliança e excluídos da graça de Deus» (James Dunn).
      Jesus não nega que exista o pecado e que existam os pecadores. O fato de chamá-los de «doentes» o demonstra. Sobre este ponto é mais rigoroso que seus adversários. Se estes condenam o adultério de fato, Ele condena também o adultério de desejo; se a lei dizia não matar, Ele diz que não se deve sequer odiar ou insultar o irmão. Aos pecadores que se aproximam d’Ele, lhes diz: «Vai e não peques mais»; não diz: «Vai e segue como antes».
      O que Jesus condena é estabelecer por conta própria qual é a verdadeira justiça e desprezar os demais, negando-lhes até a possibilidade de mudar. É significativo o modo em que Lucas introduz a parábola do fariseu e do publicano. «Disse também a alguns que se tinham por justos e desprezavam os demais, esta parábola» (Lc 18, 9). Jesus era mais severo com aqueles que, com tom depreciativo, condenavam os pecadores, que com os próprios pecadores.
      Mas o fato mais novo e inaudito na relação entre Jesus e os pecadores não é sua bondade e misericórdia para com eles. Isso se pode explicar humanamente. Existe, em sua atitude, algo que não se pode explicar humanamente, isto é, sustentando que Jesus fosse um homem como os demais, e é o fato de perdoar os pecados.
      Jesus disse ao paralítico: «Filho, teus pecados te são perdoados». «Quem pode perdoar os pecados senão Deus?», gritam espantados seus adversários. E Jesus: «Para que saibais que o Filho do homem tem poder para perdoar os pecados, ‘Levanta-te’ — disse ao paralítico –, toma tua maca e vai para casa». Ninguém podia verificar se os pecados daquele homem tinham sido ou não perdoados, mas todos podiam constatar que se levantava e caminhava. O milagre visível testificava o invisível.
      Também o exame das relações de Jesus com os pecadores contribui para dar uma resposta à pergunta: Quem era Jesus? Um homem como os demais, um profeta, ou algo mais e diferente? Durante sua vida terrena, Jesus não afirmou jamais explicitamente que fosse Deus (e explicamos anteriormente também por que), mas atuou atribuindo-se poderes que são exclusivos de Deus.
      Voltamos agora ao Evangelho do domingo e à parábola do filho pródigo. Há um elemento comum que une entre si as três parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo, narradas uma após a outra no capítulo 15 de Lucas. O que diz o pastor que encontrou a ovelha perdida e a mulher que encontrou sua moeda? «Alegrai-vos comigo!». E o que diz Jesus como conclusão de cada uma das três parábolas? «Haverá mais alegria no céu por um pecador que se converta que por noventa e nove justos que não tenham necessidade de conversão».
      O leitmotiv das três parábolas é, portanto, a alegria de Deus. (Há alegria «ante os anjos de Deus» é uma forma hebraica de dizer que há alegria «em Deus»). Em nossa parábola, a alegria se transborda e se converte em festa. Aquele pai não cabe em si e não sabe o que inventar: ordena dar as vestes de luxo, o anel com o selo da família, matar o carneiro cevado, e diz a todos: «Comamos e celebremos uma festa, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado».
      Em uma obra sua, Dostoievski descreve uma cena que tem todo o ambiente de uma imagem real. Uma mulher do povo tem nos braços sua criança de poucas semanas, quando esta — pela primeira vez, diz ela — lhe sorri. Compungida, faz o sinal da cruz e a quem lhe pergunta o porquê daquele gesto, responde: «Assim como uma mãe é feliz quando nota o primeiro sorriso de seu filho, assim se alegra Deus cada vez que um pecador se ajoelha e lhe dirige uma oração com todo o coração» (L’Idiota, Milano 1983, p. 272). Talvez alguém, ao ouvir, decida dar finalmente a Deus um pouco dessa alegria, dar-lhe um sorriso antes de morrer…

    quarta-feira, 17 de agosto de 2011

    O silêncio


    • A cada dia mais nos encontramos imersos no barulho. O silêncio é, hoje mais do que nunca, um bem escasso. Estamos já acostumados a viver entre os ruídos da toda espécie; aos ruídos habituais da natureza ou aos domésticos, acrescentamos os necessários ruídos industriais das oficinas e fábricas. Avenidas e praças, pequenos povoados e grandes cidades são ruidosos, e o silêncio, como um perseguido, tem de se refugiar em lugares ermos e solitários de chácaras e aldeias, baixadas e colinas, de onde também é expulso nos fins de semana.
      Assusta-nos o silêncio? Tudo faz pensar que sim: quando entramos em casa, deixando para trás o ruído da rua, não damos conta de nos acostumar à oásis de paz e silêncio do lar; temos logo de ligar o rádio, o aparelho de som ou o televisor, porque no silêncio teríamos que nos confrontar com a nossa própria individualidade.
      O ruído, o vozerio ou o fragor nos projetam para “fora de nós”; o silêncio nos coloca frente a frente conosco mesmos, e isso não nos parece interessar.
      No silêncio, nos encontramos, e no silêncio podemos encontrar a Deus. A reflexão, a meditação e a contemplação precisam de silêncio. Deus não está nem no espantoso trovão nem no relâmpago intimidador; Deus está na brisa suave que reconforta o corpo e serena o espírito.
      Em nossas celebrações litúrgicas, a cada dia deixamos menos tempo ao silêncio, como se ele também a nós assustasse: canto, oração recitada, leitura, música de acompanhamento… E o silêncio?
      Tanto quem preside, como toda a assembléia celebrante, devemos recobrar e potencializar o valor do silêncio. A Quaresma é tempo oportuno para isso. Temos que nos educar à pedagogia do silêncio; que toda a assembléia se encontre unida, e também reunida, no silêncio.
      Silêncio de oração. Silêncio de contemplação. Silêncio de ação de graças. Silêncio de exame de consciência. Silêncios cheios da ação do Espírito em nós.
      Há silêncios eloqüentes e há os angustiantes.
      Há silêncios pesados e há os gratificantes.
      Há silêncios cheios e há os vazios.
      Que em nossas celebrações os silêncios sejam silêncios cheios de Deus.
      Dom Washington Cruz, CP

    segunda-feira, 18 de julho de 2011

    Palavras inúteis e palavras eficazes


    • No evangelho de Mateus, no contexto do discurso sobre as palavras que revelam o coração, existe uma palavra de Jesus que estremece os leitores do Evangelho de todos os tempos: “Mas eu vos digo que de toda palavra inútil que falem os homens darão contas no dia do Julgamento” (Mt 12, 36).
      Sempre foi difícil explicar o que Jesus entendia por “palavra inútil”. Certa luz nos chega de outra passagem do evangelho de Mateus (7, 15-20), onde volta o mesmo tema da árvore que se reconhece pelos frutos e onde todo o discurso aparece dirigido aos falsos profetas: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com disfarces de ovelhas, mas por dentro são lobos. Por seus frutos os conhecereis…”.
      Se o ditado de Jesus tem relação com o dos falsos profetas, então podemos talvez descobrir o que significa a palavra «inútil». O termo original, traduzido com «inútil», é argon, que quer dizer «sem efeito» (a – privativo –; ergos – obra –). Algumas traduções modernas, entre elas a italiana da CEI (Conferência Episcopal Italiana, N. do T.], vinculam o termo a «infundada», portanto, a um valor passivo: palavra que carece de fundamento, ou seja, calúnia. É uma tentativa de dar um sentido mais tranqüilizador à ameaça de Jesus. Não há nada, de fato, particularmente inquietante se Jesus diz que de toda calúnia se deve dar contas a Deus!
      Mas o significado de argon é mais ativo; quer dizer: palavra que não fundamenta nada, que não produz nada: portanto, vazia, estéril, sem eficácia [1]. Neste sentido, era mais adequada a antiga tradução da Vulgata, verbum otiosum, palavra «ociosa», inútil, que no demais é a que se adota também hoje na maioria das traduções.
      Não é difícil intuir o que quer dizer Jesus se compararmos este adjetivo com o que, na Bíblia, caracteriza constantemente a palavra de Deus: o adjetivo energes, eficaz, que atua, que se segue sempre de efeito – ergos (o mesmo adjetivo do qual deriva a palavra «enérgico»). São Paulo, por exemplo, escreve aos Tessalonicenses que, tendo recebido a palavra divina da pregação do Apóstolo, eles a acolheram não como palavra de homens, mas como o que é verdadeiramente, como «palavra de Deus que permanece operante (energeitai) nos crentes» (cf 1 Ts 2, 13). A oposição entre palavra de Deus e palavra do homem se apresenta aqui, implicitamente, como a oposição entre a palavra «que atua» e a palavra «que não atua», entre a palavra eficaz e a palavra vã e ineficaz.
      Também na carta aos Hebreus encontramos este conceito da eficácia da palavra divina: «a Palavra de Deus é viva e eficaz» (Hb 4, 12). Mas é um conceito que vem de longe; em Isaías, Deus declara que a palavra que sai de sua boca não volta a Ele jamais «vazia», sem ter realizado aquilo para o que foi enviado (v. Is 55, 11).
      A palavra inútil, da qual os homens terão de dar contas no dia do Juízo, não é portanto toda e qualquer palavra inútil; é a palavra inútil, vazia, pronunciada por aquele que deveria ao contrário pronunciar a «enérgica» palavra de Deus. É, em resumo, a palavra do falso profeta, que não recebe a palavra de Deus e, contudo, induz os demais a crerem que seja palavra de Deus. Ocorre exatamente ao inverso do que dizia São Paulo: tendo recebido uma palavra humana, ele a toma não pelo que é, mas pelo que não é, ou seja, por palavra divina. De toda palavra inútil sobre Deus o homem terá que dar contas: eis aqui, portanto, o sentido da grave advertência de Jesus.
      A palavra inútil é a falsificação da palavra de Deus, é o parasita da palavra de Deus. É reconhecida pelos frutos que não produz, porque, por definição, é estéril, sem eficácia (no bem). Deus «vela por sua palavra» (cf. Jr 1, 12), tem ciúmes dela e não pode permitir que o homem se aproprie do poder divino nela contido.
      O profeta Jeremias nos permite perceber a advertência que se oculta sob essa palavra de Jesus. Vê-se já claramente que se trata dos falsos profetas: «Assim diz Javé: Não escuteis as palavras dos profetas que vos profetizam. Estão vos enganando. Eles vos contam suas próprias fantasias, não coisas da boca de Javé… Profeta que tenha um sonho, conte um sonho, e o que tenha consigo minha palavra, que fale minha palavra fielmente. O que tem que ver a palha com o grão? – oráculo de Javé. Não é assim minha palavra, como o fogo, e como um martelo que arrebenta a rocha? Pois bem, aqui estou eu contra os profetas – oráculo de Javé – que roubam minhas palavras um do outro» (Jr 23, 16.28-31).

    O grande valor da Santa Missa


    • “Uma Santa Missa tem mais valor que todos os tesouros do mundo”.
      São Leonardo de Porto Maurício Padroeiro dos Missionários.
      A Santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo oferecido, em nossos altares, em memória do sacrifício da Cruz.
      O Santo Sacrifício da Missa é oferecido:
      1º Para odorar e glorificar ao Senhor bom Deus;
      2º Para agradecer a Deus os benefícios recebidos;
      3º Para obter de Deus o perdão dos pecados;
      4º Para pedir a Deus graças e favores. “Na hora da morte, as Missas a que houveres assistido serão a tua maior consolação”.
      Um dos fins da Santa Missa é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Em cada Missa, podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados, pena essa que será diminuída na proporção do teu fervor. Assistindo com devoção à Santa Missa, prestas a maior das honras à Santa Humanidade de JESUS CRISTO. Ele compadece de muitas das tuas negligências e omissões. Perdoa-te os pecados veniais não confessados, dos quais, porém, te arrependes; preserva-te de muitos perigos e desgraças que te abateriam. Diminui o império de Satanás sobre ti mesmo. Sufraga as Almas do Purgatório da melhor maneira possível.
      Uma só Missa a que houveres assistido em vida, será mais salutar que muitas a que os outros assistirão por ti depois da morte. “Será ratificada no Céu a bênção, que do Sacerdote recebes na Santa Missa”, afirma o grande Doutor e Bispo da Igreja Santo Agostinho de Hipona. “O renomado pregador, denominado “O Boca de Ouro”, Doutor e Patriarca de Constantinopla São João Crisóstomo escreveu: “Estando Jesus morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, transpassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício”.
      O ínclito teólogo e Doutor da Igreja Santo Tomás de Aquino disse: “O martírio não é nada em comparação com a Santa Missa”. Pelo martírio, o homem oferece o Deus dá o seu Corpo e o seu Sangue em Sangue em sacrifício para os homens. Se o homem reconhecesse devidamente esse mistério, morreria de amor. A Eucaristia é o milagre supremo do SALVADOR; é o dom soberano do Seu amor”. Foi de forma magistral que a magnífica mística e Doutora da Igreja Santa Teresa de Ávila disse: “Sem a Santa Missa, que seria de nós? Tudo perecia neste mundo, pois somente ela pode deter o braço de Deus”. “Jesus Cristo na Santa Missa é médico e remédio” afirmou o fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, Bispo e Doutor da Igreja Santo Afonso de Ligório.
      Preciosidades
      Pedras preciosas sempre fascinaram por sua beleza, raridade e durabilidade, sem contar os milhões que podem representar. A maioria dessas preciosidades, também chamadas de gemas, são minerais ou rochas formadas a partir de condições especiais e pouco frequentes na natureza. “Cada mineral tem seu modo particular de formação. O diamante, por exemplo, se forma a partir do carbono, com pressões e temperaturas elevadas, só encontradas no interior da terra a grandes profundidades”, diz o geólogo e gemólogo Nelson Luiz Chodur, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná. O total de ouro no mundo, na superfície e já processado é de 163.000 toneladas. Todo esse ouro, com todas as pedras preciosas, junto com todo dinheiro e outras riquezas no mundo, não valem nada diante da Santa Missa. “Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um Cordeiro sem defeitos e sem mácula” (1 Pd 1, 18). O maior valor que existe na face da terra é a Santa Missa. É a Santa Missa o verdadeiro culto de louvor, oblação, glorificação e adoração a Santíssima Trindade.
      Pe. Inácio José do Vale – Professor de História da Igreja

    quinta-feira, 14 de julho de 2011

    Jesus: modelo perfeito de oração






  • “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41).
    A frequência com que oramos pode variar bastante segundo as circunstâncias que nos envolvem. Contudo, pressupõe-se que seja um costume regular.  O Senhor Jesus – como homem perfeito que foi – em tudo nos é modelo. Os seus dias de trabalho eram repletos de afazeres como os de nenhum outro. Mesmo assim, sempre o vemos em oração perante o seu Pai Celestial: cedo de manhã, ao fim do dia e não raro durante a noite. Isto vem á tona especialmente no evangelho de Lucas, onde ele é apresentado como o Filho do Homem. Vamos conferir algumas cenas:
    Logo no início de seu ministério: o batismo por João Batista assinala o início do ministério de Jesus (At 1,22). Lucas é o único que relata que o Senhor, tendo saído da água, orou. Logo a seguir o céu se abriu para o duplo testemunho divino, que também é relatado por Mateus e Marcos: o Espírito Santo desceu sobre ele em forma visível, e o Pai testificou o seu agrado no seu “Filho amado” (Lc 3,21-22).
    Em meio a muitos trabalhos: Nosso Senhor cumpria uma extensa lista de atividades. Ele ensinava nas sinagogas, pregava por toda parte, curava os enfermos e expelia demônios. Não havia como evitar que suas obras repercutissem, embora ele admoestasse repetidas vezes que não fizesse divulgação. “Ainda assim, ele não se deixava absorver pelas requisições, porém, se retirava para os lugares solitários e orava” (Lc 5,16). Tal relato faz supor que, por vezes, ele também se ausentava por períodos prolongados para estar a sós com Deus.
    Antes de decisões relevantes: certa ocasião ele perseverou a noite inteira em constante “oração a Deus” (Lc 6,12). Foi quando ele estava para escolher os seus doze apóstolos. Entre eles, homens que posteriormente, seriam grandes testemunhas da fé, como Pedro, João e Tiago, mas também “Judas Iscariotes, que se tornou traidor”. Ele era o filho de Deus, e nada lhe estava oculto; contudo, como homem que era, sentia profundamente a necessidade de comungar com Deus acerca dessas coisas.
    Antes de anúncios importantes: certa vez ele orou na presença dos discípulos, para  a seguir testá-los com uma pergunta: “E vos, quem dizeis que eu sou? (Lc 9:18-20). Em sua resposta, Pedro rendeu o magnífico testemunho: “O Cristo de Deus” (compare com Mt 16,16-17) . O Senhor Jesus no entanto, tomou a oportunidade para anunciar os seus sofrimentos da cruz.
    Sobre o “monte santo”: a maravilhosa prévia do que seria sua glória no vindouro Reino de Paz, que pode ser assistida por três de seus discípulos, começou com uma oração dele. “Estando ele orando”, ocorreu a misteriosa transfiguração (Lc 9,28-36; 2 Pe 1,16-18).
    Senhor, ensina-nos a orar: o Senhor havia terminado de orar, quando um discípulos lhe fez este pedido (Lc 11,1), Correspondendo a posição de outrora, ele apresentou o modelo do “Pai Nosso”. Hoje, todavia, oramos “no Espírito Santo” (Jd 20), contudo, na mesma atitude.
    Getsêmani: aqui vemos Nosso Senhor de joelhos, em profunda aflição de alma (Lc 22,43-44). Ele viera para cumprir a vontade de Deus, e nunca vacilou neste propósito. Sua missão tinha como base a oração ao bom Deus.
    ENSINAMENTO SOBRE A ORAÇÃO
    Nosso Senhor Jesus Cristo é o perfeito exemplo de orante e a maior autoridade sobre o ensino da oração. Ele deixou para nós a maior e a mais poderosa oração do universo: “A oração do Pai Nosso” (Mt 6,9-13).
    Ele contou uma parábola para mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais esmorecer (Cf. Lc 18, 1-8). Jesus tanto orava em companhia de seus amigos (Mt 26, 36-38; Lc 9, 28-36; Jo 11,40-45); como buscava o silêncio e a solidão para uma abissal comunhão com seu Pai (Mt 14,23 ; Mc 1,35). O capítulo 17 do Evangelho de São João é magistral no ensino de oração intercessória. São Paulo Apóstolo aprendeu muito bem com o seu Mestre Jesus de Nazaré, quando ele exorta: “Orai e sem cessar” (1 Ts 5,17). “Com orações e súplicas de toda a sorte, orai em todo o tempo, no Espírito e para isso vigiai com toda a perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6,18).
    Os Santos na História da Igreja deixou para nós o maior exemplo de oração e intimidade com Deus. Uma das principais virtudes dos Santos é a vida profunda de clamor e súplica pela humanidade.
    O grande Bispo e Doutor da Igreja Santo Agostinho de Hipona dizia: “Sem a oração não se pode conservar a vida da alma. A oração é uma chave que nos abre as portas do céu”. O Patriarca de Constantinopla São João Crisóstomo afirmava: “O homem mais poderoso é o que reza, porque se faz participante de Deus”.
    O ínclito teólogo, chamado pela Igreja de “O Doutor Angélico”, Santo Tomás de Aquino dizia: “A oração contínua é necessária ao homem para entrar no céu. A força da oração para obtermos a graça, não vem de nossos méritos, mas da misericórdia de Deus que prometeu ouvir aquele que lhe pede”.
    A primeira mulher declarada Doutora da Igreja foi a grande mística Santa Teresa de Ávila, ela disse: “A oração de intimidade com Deus, não é outra coisa senão um morrer quase total a todas as coisas do mundo para alegra-se só em Deus. Quem deixa a oração é como jogar-se no inferno por si mesmo, sem necessidade dos demônios”. Por isso o Bispo, Doutor e fundador da Congregação do Santíssimo Salvador, patrono dos confessores e teólogos da teologia moral Santo Afonso de Ligório afirmou com categoria: “Que reza se salva. Quem não reza, certamente se condena. “Digo  e repito e repetirei sempre, enquanto tiver a vida, que toda a nossa salvação está na oração”.
    E para finalizar essas pequenas citações sobre a oração, termino com o pensamento da gloriosa e amadíssima Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja e padroeira das missões: “Ah! É a oração, é o sacrifício que fazem toda minha força. São as armas invencíveis que Jesus me deu e, bem mais do que as palavras, podem tocar as almas. Fiz muitas vezes essa experiência”.
    CONCLUSÃO
    Seguir Jesus Cristo é amar e viver seus ensinamentos. Na oração o modelo maior é oração do PAI NOSSO. Precisamos explorar a riqueza da oração. Mergulhar a alma no Oceano de oração. Três coisas para a alma viver no Oceano de oração: “Tempo, vontade e ação”. O tempo, que é o belo presente de Deus, deve ser vivido na graça do amor, do perdão, da meditação e no dialogo com Deus. À vontade, que é nosso desejo de forma radical para fazer a vontade de Deus, praticar boas obras e se jogar nos braços do Pai contra as tentações demolidoras. A ação, que é o hábito de orar em todo tempo e lugar. A ação leva-nos buscar métodos sobre a prática abissal do Oceano de oração. A nossa fortaleza e a nossa felicidade estão no trato com a oração. Essa experiência faz a alma caminhar com segurança na estrada da vida. Ganhamos tudo de excelente por meio da oração. A vida sobrenatural é verdadeira pelo espírito da oração. Para vida mística – unitiva – contemplativa o fundamento é o ardor da oração.
    Nosso Senhor Jesus Cristo se faz tão presente com atos de sublime misericórdia no coração de quem ora e ama, cuja vida leva muitas pessoas a contemplar a face do bom Deus.

  • A alegria do Senhor


    • Não faz bem para as pessoas uma vida calcada em atitudes de tristeza, de desânimo e sem capacidade de reais iniciativas. Isso não é próprio dos que procuram se apoiar numa espiritualidade de adesão e de sintonia com o Senhor, com o Mestre da vida, Jesus Cristo. Aí está a fonte verdadeira da alegria.
      Ser pobre e oprimido, mesmo com os sofrimentos que isto causa, não é motivo de tristeza. Por outro lado, a riqueza material e a liberdade nem sempre proporcionam a autêntica alegria. Poderão ocasionar uma falsa alegria! Elas não conseguem, às vezes, atingir a identidade da pessoa.
      A alegria é um estado de espírito que vem do amor, da entrega total da vida ao outro no sentido de doação e de reconstrução da própria identidade. Isto é mais forte quando feito às pessoas mais simples e oprimidas. Tem relevância na sensibilidade para com os que sofrem com as catástrofes, os flagelados.
      A sociedade é um todo, como um corpo, formada por membros diversos e com funções diferentes. Não importa ser livre ou escravo. Importa colocar as qualidades recebidas e dons naturais a serviço do bem comum de todos.
      O mal é capaz de criar os pobres e de colocá-los em desespero, porque tira deles a esperança. É preciso abrir para eles novos horizontes e capacidade de reerguimento. Só a Palavra de Deus é capaz de dar luz e estabelecer a liberdade, condição fundamental para acontecer a verdadeira alegria.
      A força do Espírito do Senhor questiona e salva a humanidade, começando pelos mais simples e excluídos. Proporciona aos membros da comunidade a capacidade de comunicação e de serviço de uns para com os outros, na solidariedade e na fraternidade, não deixando que a tristeza domine as pessoas.
      A lei do amor liberta e supera as leis que oprimem os indivíduos no aspecto físico, econômico e político. Ela tem o projeto de vida, de liberdade e de salvação. É preciso despertar as consciências desfalecidas diante do que é negativo na cultura moderna.
      Dom Paulo Mendes Peixoto – CNBB

    Jesus ora por nós, ora em nós, e recebe a nossa oração


    • Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça a sua Palavra, pela qual criou todas as coisas, e a ela uni-los como membros, para que o Filho de Deus fosse filho do homem, um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos dele o Filho; e quando o Corpo do Filho orar, não separe de si sua Cabeça. Deste modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração.
      Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz. E quando se disser sobre o Senhor Jesus, sobretudo nos profetas, algo referente àquela humilhação aparentemente indigna de Deus, não hesitemos em lhe atribuir, já que ele não hesitou em fazer-se um de nós. É a ele que toda a criação serve, porque todo o universo é obra de suas mãos.
      Por isso, contemplamos sua divindade e majestade, quando ouvimos: No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez (Jo 1,1-3). Mas se nesta passagem contemplamos a divindade do Filho de Deus que supera as mais excelsas criaturas, ouvimos também em outras passagens da Escritura o mesmo Filho de Deus que geme, ora e louva.
      Hesitamos então em atribuir-lhe tais palavras, porque nosso pensamento reluta em passar da contemplação de sua divindade à sua humilhação, como se fosse uma injúria reconhecer como homem aquele a quem orávamos como a Deus; por isso, o nosso pensamento fica muitas vezes perplexo, e esforça-se por alterar o sentido das palavras. Porém, não encontramos na Escritura recurso algum para aplicar tais palavras senão ao Filho de Deus, sem jamais separá-las dele.
      Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de Deus; tornando-se  semelhante aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até á morte (cf. Fl 2,7-8). E quis tornar suas as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,1).
      Ele ora na sua condição de servo, e recebe a nossa oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois se dirige a ele, por ele e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco.
      Dos Cometários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, 

    quarta-feira, 13 de julho de 2011

    Jovem: “a verdade vos libertará.”


    • “A educação consiste em despertar nas consciências a  verdade que está dentro das consciências, de maneira que elas se tornem capazes de raciocinar por si mesmas, de julgar por si, de se tornar livres num mundo em que a liberdade é um risco, uma conquista e nunca um dado de fato ou um dom já enraizado. “
      Sendo essa a natureza e a finalidade da educação, é indispensável dar à pessoa condições de alcançar o objetivo, isto é, de captar a verdade para administrar, depois, sua própria liberdade. É esse o sentido profundo das palavras de Jesus no Evangelho.
      É também o verdadeiro problema para a cultura em que a atual geração de jovens vive: hoje – importa ressaltar – não é só a liberdade que constitui uma conquista, mas também a verdade a respeito de si. Seria ingênuo considerá-la previsível. Quem não descobre sua própria verdade, nunca será livre.
      Partimos do princípio de que o jovem deve tornar-se educador de si mesmo, isto é, ele mesmo deve tornar-se capaz de “extrair” de si (=educere) a sua verdade.
      a)    Comportamentos
      Antes de tudo, a atenção deve ser dirigida à conduta, àquilo que é imediatamente visível ou facilmente perceptível; sobretudo aos comportamentos habituais, aos gestos ou aos modos de agir que a pessoa repete até mesmo em ambientes diferentes e com pessoas diferentes ou que reconhece também em seu passado; aos comportamentos já arraigados; àquilo que ela diz com uma certa freqüência ou que sublinha com igual urgência. Sobretudo, se depois percebe uma certa discrepância entre o que ela diz ou pretende (dos outros, mas também de si) e o que de fato faz.
      Em geral, o jovem fica chocado com a distância que existe (e é evidente) entre os valores proclamados e os valores (não) vividos. Contudo, é essa mesma diferença que ele deve descobrir.
      b)     Atitudes
      No segundo nível de observação, o olhar torna-se mais penetrante e desce mais em profundidade.
      Geralmente, parte-se da “área de incoerência” antes detectada, para se tentar captar não só o que aparece evidente de imediato, mas também o que não é tão evidente e, mesmo assim, faz parte do eu. De fato, as atitudes são predisposições a agir, como “programas de ação”, já memorizados em nosso “computador”, conscientes e também inconscientes, prontos para o uso como um esquema fixo e estável e dos quais derivam subjetivos estilos de ação e critérios de escolha, modos estereotipados de julgar os outros e simpatia/antipatias, atrações e repulsas imediatas, estados de ânimo e nervosismos. Aquela incoerência, como toda incoerência, tem aqui as suas raízes.
      Uma certa inquietação, durante essa análise, é bom sinal: significa que o jovem está no caminho certo e também descobrindo seus pequenos ídolos. Normalmente, as atitudes não são muitas, não se identificando com os comportamentos, mas tocam as áreas estratégicas do nosso ser, a relação com as nossas escolhas de vida, com os outros, com Deus.
      Em geral, estamos muito apegados às atitudes. Por isso, não é fácil atacá-las e mudá-las, especialmente quando não se tornam nunca objeto de atenção crítica.
      c)    Sentimentos
      A terceira passagem vem por si mesma. Uma vez superada a barreira do que é imediatamente visível, não deveria ser difícil levar a análise adiante para perceber, com sinceridade, o que o sujeito experimenta dentro de si ou experimentou naquela precisa circunstância, quando recebeu uma ofensa ou se sentiu marginalizado.
      O sentimento é uma ressonância afetiva com a qual o jovem vive os seus estados subjetivos no relacionamento com o mundo exterior. Nasce como emoção que se torna, aos poucos, estável e pode chegar a ser tão intensa que pode passar a ser paixão.
      Existem vários tipos de sentimentos: amor, ódio, alegria, tristeza, esperança, desespero, bem-aventurança, êxtase, plenitude, vazio interior… Normalmente uma pessoa experimenta uma certa variedade de sentimentos que, no fundo, além de ser um precioso indicador, constituem uma riqueza do coração humano. Todavia, há também quem os teme, os sataniza ou envergonha-se deles ou tem medo de descobrir que é capaz de ter sentimentos negativos, ódio ou ressentimento, e procura, de certa forma, negá-los, até se tornar pessoa “anemotiva”, incapaz totalmente de experimentar sentimentos, fria e rígida como bacalhau. Seria uma grave anomalia para uma pessoa consagrada! Também porque, sem conhecer o próprio coração, como poderá comunicar-se com um outro coração?
      O jovem deve aprender esse princípio: por meio do envolvimento emotivo e do tipo de emoção experimentada, o eu se revela a si mesmo. Por conseguinte, vale a pena ser sincero consigo mesmo para educar (= extrair) os sentimentos.
      d)    Motivações
      Dos sentimentos às motivações ou à tentativa de identificar o que realmente leva jovem a agir, as necessidades que nele prevalecem, mesmo se inconscientes.
      A motivação é o fator dinâmico-direcional que ativa e dirige o comportamento humano para um objetivo preciso. É energia com algo certeiro, força intencional. É o que a pessoa quer realmente, embora – às vezes – não o compreenda e até em oposição a outros objetivos declarados e… nobres. Aqui o jovem deve procurar captar a orientação geral da sua vida, daquilo que pretende realizar, como vem à tona pelas várias motivações que colhe na base do seu ser e agir.
      Então, já não é suficiente a sinceridade. É preciso chegar à verdade de si, por meio de perguntas precisas: estou agindo com base em necessidades egoístas ou visando a motivos transcendentes?

    Parada Gay: respeitar e ser respeitado

    Eu não queria escrever sobre esse assunto; mas diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã, durante a Parada Gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados.


    Ficamos entristecidos quando vemos usados com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15 séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a dignidade de cristão e filho de Deus?!


    “Nem santo salva do vírus da AIDS”. Pois é verdade. O que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja defende e convida todos a fazer. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também os sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos e imagens de sua fé e seus sentimentos e convicções religiosas. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de “amor”; o “mandamento novo” foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao ensinamento do próprio Jesus.


    A Igreja católica refuta a acusação de “homofóbica”. Investiguem-se os fatos de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos religiosos católicos. A Igreja Católica desaprova a violência contra quem quer que seja; não apoia, não incentiva e não justifica a violência contra homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais; muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito. Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. Mas ela ensina e defende que a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.


    Quem apela para a Constituição Nacional para afirmar e defender seus direitos, não deve esquecer que a mesma Constituição garante o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às organizações religiosas, símbolos e textos sagrados, é a contrapartida que se requer.


    A Igreja Católica tem suas convicções e fala delas abertamente, usando do direito de liberdade de pensamento e de expressão. Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las com respeito, compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra a natureza; essa não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma ainda que a sexualidade não depende de “opção”, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo homem e pela mulher.


    Causa preocupação a crescente ambiguidade e confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura. Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o desrespeito às leis da natureza biológica dos seres introduz neles a desordem e o descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da civilização e da humanidade?


    As ofensas dirigidas não só à Igreja Católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso que a Igreja Católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova para eles; e são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.


    Card. Odilo P. Scherer-Arcebispo de São Paulo

    Nós colhemos o que semeamos


    • O quanto e como damos é a medida do que recebemos. O banco da vida é justo e nos devolve o mesmo que antes depositamos. São Paulo nos adverte, baseado em sua própria experiência: “O que alguém tiver semeado, é isso que vai colher. Quem semeia na sua própria carne, da carne colherá corrupção; quem semeia no espírito, do Espírito colherá a vida eterna” (Gal 6, 7-8).
      No Cânion do Colorado, um pai passeava com seu filho de sete anos. A manhã estava quente e o sol resplandecia num céu aberto. De repente, o pequeno cai, machuca o joelho e grita: “aaaaaahhhhh!!”
      Para sua surpresa, ouve uma voz oculta que também se queixa: “aaaaaaaaahhhhhhh!!”
      Curioso o menino grita: “Quem está aí?”
      Das profundezas do Cânion, uma voz lhe faz a mesma pergunta: “Quem está aí?”
      Irritado com a resposta anônima, o menino grita: “Covarde, por que se esconde?”.
      Do outro lado, alguém lhe responde agressivamente: “Covarde, por que se esconde?”.
      O menino olha para o pai e pergunta: “Que acontece?”.
      O pai sorri e lhe diz: “Meu filho, preste atenção”.
      Então, o pai grita para a montanha: “Te admiro”.
      Do fundo do Cânion, alguém lhe confessa várias vezes: “te admiro, te admiro, te admiro”.
      Mais uma vez o homem exclama: “És um campeão”.
      A voz lhe responde: “És um campeão, campeão, campeão”.
      O pai sussurra em voz baixa: “Te amo”.
      A voz lhe responde com suavidade: “Te amo, te amo, te amo”.
      O pequeno fica espantado, porém, não entende.
      O pai lhe explica olhando em seus olhos: “Nós chamamos isso de eco, filho, porém, na realidade, é a vida”.
      E acrescenta em voz alta: “Ela te devolve o que diz ou faz…”
      Cada um colhe e recebe o que tem semeado e feito.
      Se desejas mais amor neste mundo, semeia amor ao teu redor. Porém, se desejas pouco amor, dá pouco [amor]. Se esperas felicidade, dá felicidade a quem te cerca. Se queres sorriso e bênçãos, sorri e abençoa. Se gostas de colher desprezo, menospreza. Se desejas bem materiais, compartilha-os. Se busca amigos, faze-os. Se preferes solidão, fecha-te em ti mesmo. Se te interessa o meio ambiente, semeia uma árvore e não contribua com o aquecimento do planeta. Se necessitas que te escutem, escuta os demais.
      Se até o dia de hoje tens colhido solidão, enfermidade, tristeza, traições, não culpes os outros. Antes, reveja suas atitudes, as sementes que tens semeado, e mude se preciso for, para que, rápido, muito rápido, possas colher frutos abundantes e permanentes (cf. Jo 16, 8-16).
      José H Prado Flores
      Pregador internacional, Fundador e Diretor Internacional
      das Escolas de Evangelização Santo André

    terça-feira, 12 de julho de 2011

    O Amor



    William Shakespeare tornou célebre história de dois apaixonados. Não existe evidência histórica que possa atestar ou não a existência de Romeu e Julieta. O casal, filhos de famílias rivais protagonizam uma paixão que os faz ultrapassar adversidades. O final é típico de uma tragédia. Romeu suicida-se e Julieta envenena-se. Mesmo que eternizado pelo romantismo Romeu e Julieta não serve como exemplo, ou modelo de amor para enamorados cristãos, pois o verdadeiro apaixonado acima de tudo tem um sentido maior na sua vida.


    O que é o amor? Deus é o único e verdadeiro amor. Todos os outros, se forem amor de verdade, é um desdobramento do amor de Deus. E esse é o amor que precisa existir entre você e a pessoa amada.


    O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor jamais acabará. 1º Coríntios 13, 4-8.


    O amor entre um homem e uma mulher mantém no mundo uma esperança de mudança. É um amor forte, inato e capaz de gerar vida, superar diferenças e dissipar o egoísmo. Quando falta esse amor as complicações não tardam em chegar.


    É bem verdade um número significativo de pessoas que estão feridas por experiências frustradas ou não correspondidas em seus relacionamentos. É preciso superar traumas, sobretudo na afetividade. Ter tido uma experiência dolorosa ou decepcionante na área sentimental não pode congelar todo o restante da existência. O remédio eficaz para esses males é o perdão. Como é preciso nos relacionamentos dar e aceitar o perdão. É um ato de esvaziamento, no entanto pode revigorar um relacionamento, retirá-lo do precipício e mesmo libertar quem se encontra na prisão do ódio, do rancor e da tristeza.


    O amor não é cego como se costuma dizer, aliás, ele enxerga muito bem. Vê o que ninguém consegue vislumbrar no outro. Na ótica do amor o defeito da pessoa amada não é muro, mas ponte. Num sincero relacionamento esses defeitos podem ser corrigidos e superados.


    O importante é descobrir ou redescobrir quão belo é o amor humano a partir do amor de Deus. Deus está conosco e não é de forma alguma indiferente ao que sentimos. Este amor apaixonado de Deus por nós é motor que deve impulsionar o nosso amor e torná-lo potente e fecundo.


    O amor é nosso tema do Acampamento PHN 2011. É o amor de Deus que move toda a obra Canção.#OAmorJamaisAcabará ”    #PHN 2011




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    TEXTO RETIRADO DO BLOG DO DUNGA(idealizador do PHN)...LINK ai : http://blog.cancaonova.com/dunga/o-amor/

    Assim rezava quando era jovem











  • Não há dúvida que os jovens são a grande força do amanhã em todos os campos. O amanhã depende dos jovens que hoje se preparam para assumir os cargos políticos ou de trabalho e também na Igreja. O Papa de amanhã é um jovem de hoje que, desejoso de se doar a Deus, encaminha-se pela estrada do sacerdócio; será um dia escolhido para ser Bispo, depois Cardeal e, enfim, entre tantos participantes de um conclave, será eleito Papa, então guiará a Igreja pelos novos caminhos da história. Não há como fugir desta lei tão simples e tão fundamental da vida.
    Os jovens gostam de rezar?
    Nas minhas andanças por este Brasil e mundo afora, tem me dado grande alegria conhecer jovens que têm gosto pela oração. Todo jovem é como vinho novo, que tem sua efervescência e vitalidade; coloca em tudo o que faz entusiasmo e vida, sabe experimentar a presença de Deus como o consolador e confortador, aquele que vem ajudar em todos os momentos da vida.
    O jovem deixa-se envolver pelo entusiasmo e todos os seus sentimentos cantam a alegria da vida. A espontaneidade juvenil é o que mais toca aos que os olham enquanto rezam. Escutar as orações dos jovens é ver-se envolvido em tantos sentimentos fugazes e profundos ao mesmo tempo. O jovem não sabe deixar-se envolver pela reflexão, ele é sempre aquele grito de amor apaixonado; é também o grito da revolta diante de tantas situações que levam a marca do sofrimento, da fome, da miséria e do desespero.
    Não há dúvida que os jovens sentem-se à vontade nos movimentos carismáticos, porque aí encontram o seu “lugar e espaço sagrados” para exteriorizar tudo o que se passa dentro deles. É na dança, na coreografia religiosa, no teatro, nos cantos alegres e amorosos que tudo se faz vida e experiência de amor. O sorriso e as lágrimas se misturam numa sóbria sabedoria. Nós, mais adultos, precisamos parar um pouco, sair de nós mesmos e voltar à nossa juventude para assim compreender a oração dos jovens de hoje. Não podemos contemplar somente de longe, é preciso deixar-se envolver e, quando não os compreendemos, assumir uma atitude de silêncio, de respeito por aquilo que se passa dentro do coração deles…
    Quais são os problemas que atormentam o coração do jovem?
    Todo jovem gosta de encontrar amigos e, em determinados momentos da vida, sente-se terrivelmente sozinho e reclama diante de Deus por isso; e pede amigos para partilhar a vida, para vencer a solidão, para sentir-se parte do mundo que lhe parece grande demasiado, para não se perder.
    A solidão é terrível em qualquer etapa da vida, mas especialmente na juventude. Lembro que, quando era jovem, isto é, 40 anos atrás… tantas vezes me surpreendia silenciosamente e com os olhos fixos para o céu, pedindo a Deus a graça de encontrar amigos que me ajudassem a me abrir à vida e me ensinassem a vencer os momentos de solidão. Era pastor e sempre ocupado com as minhas ovelhas, que não me ajudavam muito a compreender os problemas da vida; elas estavam ocupadas em procurar alimento e eu, pobre também, me recordava de vez em quando que estava com muita fome… mas o desejo de ter amigos era muito grande… Depois, escutando as orações dos jovens, me convenci que todo “jovem normal” sente o desejo de sair do seu mundo pequeno e restrito, de fugir dos que não o entendem e buscar alguém que possa acolhê-lo.
    Como eu rezava quando era jovem…
    Este artigo me tem obrigado a parar e voltar no tempo, quando tinha entre 15 e 23 anos, no início da minha vida carmelitana; a oração passou por tantas modificações que às vezes não é fácil me reconhecer no que desejava, no que pedia e na forma como pedia. O mesmo percebemos lendo a “História de uma alma”, de Santa Teresinha do Menino Jesus, identificamos como ela, voltando no tempo, tenta recordar como rezava quando se encontrava no mosteiro das Irmãs Beneditinas, “escondia-se atrás da cortina, e dizia que estava pensando”. Também lendo as primeiras cartas dela notamos que a sua oração foi evoluindo até a sua maturidade espiritual.
    Gostaria de evidenciar alguns aspectos da minha oração juvenil para que os jovens possam também se reconhecer nesse estado de espírito que eu vivia.
    Deus, para mim, aos 15 anos, era o Senhor do mundo, que deveria atender meus pedidos: uma vida melhor economicamente, porque minha mãe era pobre e viúva e não podia me dar o que eu via em meus colegas e eu não podia me permitir aquele luxo. A pergunta que surgia era a seguinte: “Por que os outros podem e eu não; por que Deus está sendo injusto comigo, que sou um menino ‘órfão’, sofrido e sem ninguém?” Recordo que esse tipo de oração era muito freqüente e às vezes achava justo ter inveja e ciúme dos outros, e quando Deus não me dava o que desejava, batia os pés e fazia todo tipo de mortificações que podia. Tinham-me ensinado que sem sacrifício Deus não atende… Os jovens de hoje também são capazes de fazer qualquer sacrifício físico, jejuns, para obter de Deus a graça. Aos quinze anos a graça era querer “arrancar” com força os benefícios divinos.
    A riqueza me fascinou por pouco tempo. Também pedi a Deus, mas muito de passagem, a graça de ter uma família, porém quase imediatamente me apaixonei pela vida religiosa.
    A minha oração era querer uma vida diferente e suplicava ao Senhor que Ele me desse a possibilidade de sair de casa. Queria ser padre, provavelmente em mim aconteceu o que acontece ainda com tantos jovens: achava que o padre tinha uma vida tranqüila, cômoda, não lhe faltava nada e ele não tinha problemas… O exemplo do meu vigário suscitava em mim o desejo de imitá-lo. Ele tinha uma boa voz e eu me esforçava, indo atrás do rebanho, para cantar, mas… nisto não vinguei e continuo a ser mais desentoado que sino rachado. Mas tudo isso fazia parte de minha vida e sonhava, sonhava, sonhava… com uma vida de vigário, dirigindo uma paróquia e estando à frente dos fiéis. Sonho que também nunca se realizou, porque mais tarde pedi ao Senhor a vida religiosa; achava esta mais bonita e pensava que os religiosos fossem mais santos que os diocesanos… mas também vi que isso nem sempre é verdade.
    Pedi ao Senhor para estudar, ser inteligente, gostava de ler e queria saber tudo de cor. Havia em mim grandes sonhos e desejos que sempre pedia como criança diante do Senhor.
    Outro aspecto de minha oração era a preocupação com os pobres. Ficava indignado quando via as injustiças acontecerem entre os “sem voz nem vez”. Então rezava ao Senhor para que fizesse justiça, que ajudasse os pobres a ter o mínimo necessário para sobreviver, que lhes proporcionasse meios para melhorar de vida.
    A espontaneidade é outro aspecto da minha oração juvenil. Como todo jovem, eu era o que era e não media as palavras para falar com Deus. E Ele sempre me entendeu.
    Há, no coração de jovem, sonhos e ideais que nem sempre são possíveis de expressar; são os momentos de silêncio que nos permitem ver o nosso rosto como num espelho embaçado, sem nitidez…
    Mais tarde, duas jovens carmelitas descalças me ajudaram a compreender a oração dos jovens: Santa Teresa de Los Andes, que entrou no Carmelo aos 19 anos e morreu antes de completar 20; o seu diário traça o perfil de uma jovem generosa, desejosa de ser amada e de amar, que encontra no Senhor toda a sua alegria, aquele Deus que ela gosta de chamar “Deus, alegria infinita”. A outra é Elisabeth da Trindade, que entrou no Carmelo de Dijon – na França – aos 21 anos e lá sentiu bem forte a presença de Deus, descobrindo-o como “habitante do seu coração”; ela o chamava carinhosamente “o meu três”. “É tão linda esta presença de Deus! Como gosto de encontrá-la aqui, no mais profundo do meu ser, no céu da minha alma, pois Ele jamais me abandona… Parece-me ter encontrado o meu céu na terra, porque o céu é Deus e Deus está na minha alma. O dia em que compreendi isto, tudo se iluminou dentro de mim e muito gostaria de sussurrar este segredo àqueles que amo.”
    O que dizer aos jovens:
    Hoje, teria um conselho para dar aos jovens: não importa o que se passa dentro do coração, o que importa é sentir Deus como o amigo que nos escuta e nos acolhe em qualquer momento: antes, durante e depois das fugas; como o pai da parábola, quando voltamos, Deus se lança ao nosso pescoço, nos abraça e nos cobre de beijos…
    A oração de todo jovem deve, continuamente, ser “borbulhante” como vinho novo, cheia de sentimentos contraditórios, mas sinceros. Que a oração do jovem surja de sua vida e que possa apresentar a Deus o que dentro dele se passa.
    Nos retiros que ministro para jovens, tenho-lhes aconselhado a “escrever” para Deus o que gostariam de dizer a Ele. Na leitura dessas orações, percebe-se o que se passa dentro deles; são orações que despertam em nós grandes interesses. Recordo uma oração que dizia: “Senhor, tu és um cara legal, bom, mas tens um defeito: fazer-me esperar demais pelo que te peço; já estou desanimado de pedir”.
    Outro queria que Deus lhe arrumasse uma namorada; a pedia tão perfeita que, provavelmente, diante dela Deus mesmo perderia a sua perfeição. São desejos de jovens que Deus compreende. O que importa é saber que a oração tem sua expressividade em cada idade, e Deus é totalmente o Outro que nos escuta sempre de forma personalizada e própria.
    Não há esquemas para rezar, é deixar o coração amar e desabafar, e quem melhor do que um jovem sabe fazer isso? Que os jovens continuem a ser eles mesmos e a surpreender-nos com suas orações corajosas, ousadas, cheias de entusiasmo e de lágrimas… E que Maria, boa educadora de Jesus jovem, continue a educar todos os jovens na escuta do Evangelho e de tudo o que Jesus continua a dizer para todas as idades e épocas da história.

    Frei Patrício Sciadini, ocd