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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Deus, em sua graça, transforma o mundo.



  • Vivemos em todo cristianismo um tempo especial. É um tempo de graça que, por meio da contemplação dos últimos momentos do Senhor nos convida à conversão. Por conversão entendemos a mudança de vida e atitude das pessoas que encontram nas palavras e na vida de Cristo um sentido e valor para a própria vida. Deste modo, no silêncio da oração, no exercício do jejum e na prática da caridade somos chamados a confrontar a nossa vida à vida do Salvador e permitir que Ele complete em nós as lacunas que o pecado deixou.
    “Fica em silêncio, e conhece a Deus” (Sl 44,1) é o convite do salmista. Convite este que levou os santos padres da Igreja a acreditar que se alcança a conversão pelo silêncio, pois, quando descobrirmos o silêncio em nossos corações, discerniremos Deus e damos conta de que a sua graça está muito mais próxima de nós; na verdade, ela define mais quem somos do que nós mesmos.
    A conversão interna, contudo, exige mudanças radicais de atitude e pressupostos. Não podemos ser transformados a menos que tenhamos antes sido limpos do que quer que se coloque contra a transformação, e tenhamos entendido o que desfigura o coração humano. Esse processo de auto-descoberta resulta apenas da graça de Deus e acaba levando a um respeito verdadeiro pela natureza humana, com todos os seus defeitos, tanto em nós mesmos quanto nos outros.
    A conversão do coração surge na conversão da comunidade. Ela é um estado de vinculo e de compaixão para com o próximo. Que lástima que nós, cristãos, muitas vezes dissociemos espiritualidade de comunidade! Pois, quando nossos corações são transformados pela graça divina, vemos o mundo de forma diferente e somos levados a agir com graça. Por meio da graça transformadora de Deus, somos capacitados para buscar soluções para o conflito através do intercâmbio aberto, sem recorrer à opressão ou à dominação. Sendo assim, por meio da graça divina, está em nosso poder aumentar a dor infligida a nosso mundo ou contribuir para sua cura.
    A conversão demanda o despertar da indiferença, compromisso com os mais pobres e injustiçados. Precisamos ter consciência, que em tempos de tanto desenvolvimento e técnica, nossa época será lembrada em função daqueles que se dedicam à cura e à transformação da sociedade e do meio ambiente. A Conversão do coração e da comunidade está integralmente ligada à transformação da do planeta terra. O relacionamento entre a alma e seu Criador, bem como entre seres humanos, envolve inevitavelmente um relacionamento equilibrado com o mundo natural.
    A forma como tratamos uns aos outros se reflete na forma como tratamos nosso planeta, assim como a forma com que respondemos a outras pessoas se reflete em como respeitamos o ar que respiramos, a água que bebemos e o alimento que consumimos. Por sua vez, nossa proteção do ambiente natural revela a medida da autenticidade de nossa oração e nosso culto. Isso porque, sempre que reduzimos a vida religiosa a nossas preocupações negligenciamos a vocação profética da igreja para implorar a Deus e invocar o Espírito Divino pela renovação de todo o mundo poluído, pois, mais do que nunca, “a criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).
    Quando somos transformados pela graça divina, podemos discernir adequadamente a injustiça da qual somos participantes ativos e não meros observadores passivos. Quando somos tocados pela graça de Deus, choramos pela desgraça que causamos aos nossos irmãos e ao nosso planeta. Portanto, assim como a transformação do coração e da comunidade, a consciência ecológica também deriva da graça de Deus e requer uma conversão correspondente, uma mudança de hábitos e estilos de vida.
    Paradoxalmente, tornamo-nos mais conscientes do impacto de nossas ações sobre outras pessoas e sobre a criação quando estamos preparados para abrir mão de alguma coisa. Porque, ao esvaziarmos nosso coração de nossos desejos egoístas, damos espaço para a graça de Deus.  Deste modo a “kenosis”, ou seja, o esvaziamento de si mesmo, nos ensina que ao abrirmos a mão, vamos aprendendo a dar; ao aprender a sacrificar, essencialmente aprendemos a compartilhar.
    Muitas vezes, nossos esforços pela reconciliação e transformação são prejudicados por uma falta de disposição e comodismo em renunciar as formas estabelecidas pelos indivíduos ou instituições, por nossa recusa a abrir mão de qualquer consumismo de desperdício ou nacionalismo arrogante. Uma visão de mundo transformada nos permite perceber o impacto duradouro de nossas maneiras de agir sobre outras pessoas, especialmente os pobres, como imagem sagrada de Cristo, bem como o meio-ambiente, como sendo a marca silenciosa de Deus. No mais, diante do milagre da criação de Deus, os sábios se calam e deixam que a maravilha do mistério complete neles aquilo que o pecado devastou e destruiu.
    Pe. Deangeles Carlos Araújo
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