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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Entendendo o que é a conversão



  • A missão dos Apóstolos, anunciar a Palavra de Deus, acompanha a chamada à conversão já que ao anunciar Jesus cristo proclamam também a necessidade de converter-se e de crer. O batismo é o sacramento que faz com que o ser humano experimente essa nova realidade (cf. At 2,38). Conversão também é abandonar o fermento velho para celebrar a Páscoa  com os ázimos da sinceridade (Cf. 1 Cor 5,7s). De fato, na vida do cristão, que sempre está em processo de conversão, a escuta à Palabra e a recepção dos Sacramentos têm um papel insubstituível no caminho rumo à santidade. A esta conversão contínua chamamos “conversões segundas”.
    Na vida da Igreja é uma alegria receber novos conversos en seu seio, os novos filhos da Igreja. Quando a ela os introduz no Misterio de Cristo pelo Batismo se dá o que a teología clássica chamou de “justificação”, conceito este muito próximo ao vocábulo “conversão”.
    Para as Igrejas tradicionais que se separaram do catolicismo  a justificação era algo que atingiria o homem de uma maneira externa enquanto que Deus não olharia mais os pecados do ser humano redimido graças à justiça de Cristo que os encobre; é como se Cristo estivesse entre o Pai Santo e o homem pecador, mas sem penetrar na interioridade do ser humano. A teologia católica, ao contrário, apresenta a justificação – de acordo com o Concilio de Trento – como uma realidade que toca o mais profundo do ser humano, já que o limpa interiormente do pecado e dá-lhe uma verdadeira renovação e santificação interior. A chamada “justificação primeira” seria a que acontece no batismo. Neste sentido, o Catecismo da Igreja Católica distingue a “conversão primeira”, que se dá no batismo, e a “segunda conversão”, ou seja, a continua mudança de vida com vistas à santificação que culmina na escatologia (cf. CEC 1426-1428).
    Depois desse encontro inicial, poderíamos dizer que a vida cristã é uma conversão continuada. O cristão, chamado à santidade, busca a plenitude de vida, a santificação crescente. Mongillo chamaria esta conversão permanente de “docilidade ao Espírito que guia no caminho das bem-aventuranças”. Neste segundo momento, ainda que também naquele inicial (de pecador a justo), tem uma grande importancia a Igreja como lugar donde se consegue a novidade de vida pela força da Palavra de Deus e dos Sacramentos.
    Na mesma línea, Santo Tomás de Aquino fala de uma “tríplice conversão” ampliando desta maneira o significado do vocábulo em questão. A conversão inicial é aquela que não pede ainda a existência da graça santificante, mas somente uma operação de Deus que atrae o pecador a si. A segunda conversão é a que exige a graça santificante (ou habitual), principio do mérito, com vistas à bem-aventurança. A terceira conversão é a do amor perfeito, a da criatura que já se encontra no céu, para esta terceira é necessária a graça consumada, ou seja, a glória. Santo Tomás vai ao núcleo da questão e às fases principais da conversão, mas poderíamos enumerar muitas outras fases se considerarmos, por exemplo, uma pessoa que passa do paganismo à glória do céu com diversas etapas religiosas: do paganismo ao monoteísmo, do monoteísmo ao cristianismo de tipo não católico, de um cristianismo não-católico ao catolicismo, de católico mediocre (e há tantos!) a católico fervoroso, de católico fervoroso – que busca a santidade – até a conversão ao céu.
    Poder-se-ia afirmar que o homem se salva quando se converte, considerando a questão desde a liberdade do homem que aceita libremente o convite de Deus, ou quando é convertido. Conversão é graça de Deus e ele tem a iniciativa. Conversão e salvação vão juntas (cf. Mc 16,15; At 2,38-40). No que se refere à relação graça-liberdade na conversão, há a iniciativa de Deus e, ao mesmo tempo, ninguém se converse contra a sua vontade.
    Na vida real, na da pessoa que se converte, devemos considerar tudo isso em diversas perspectivas entrelaçadas. Considerando a atuação da graça de Deus, podemos falar da conversão desde uma perspectiva dogmática; considerando as disposições da pessoa, será desde um perspectiva moral e psicológica; ao considerar a nova vida que se produz no homem podemos tratar a mesma realidade desde uma perspectiva dogmático-espiritual. Conversão e fé vão unidas, e contemporâneamente se enfatizou que no processo de conversão encontra-se a totalidade das dimensões da pessoa. Sendo assim, é preciso integrar em nossa consideração a dimensão intelectual, volitiva, espiritual, moral etc.
    Não é necessário dizer muito mais para intuir uma possível classificação das conversões, segundo o elemento que mais esteja presente no processo que leva uma pessoa a decidir-se por responder afirmativamente ao chamado de Deus. Existem conversões intelectuais, enquanto que o elemento que mais se destaca é a busca da verdade por meio do estudo, principalmente; nas conversões morais, o que mais fica patente é o desejo de um ideal mais elevado na própria conduta; nas conversões emocionais, há uma forte sacudida emocional e eficaz ao mesmo tempo.
    Há também os chamados itinerários de conversão ou caminhos de conversão, que considerados teológicamente levam-nos a sistematizar certos elementos presentes, de uma maneira ou outra, em todo itinerário rumo à fé. Para que a decisão de crer esteja arraigada na realidade, estão os preâmbulos da fé, que são verdades religiosas ou morais conhecidas pela razão natural: existência de Deus, imortalidade da alma etc. Já que ninguém pode crer sem um prévio conhecimento do que “deve” crer, está a pregação do Evangelho, à qual uma pessoa pode responder afirmativamente (fé) ou negativamente. Dado que o ser humano encontra-se aberto à transcendência e é um ser contingente (não necessário), dá-se o que podemos chamar pergunta pelo sentido da vida, que exige o interrogar-se sobre a questão “Deus”. Um momento fundamental do processo de conversão se dá na busca das razões para crer. Finalmente, a percepção pessoal da bondade e do dever de crer culmina este processo teológico da conversão já que aqui se da uma relação essencial entre fé e fim último do homem. Al falar do dever de crer não se pense, no entanto, em assentimento obrigatório, a pessoa sempre é livre para crer ou não, referimo-nos à percepção da necessidade de crer “para mim”.
    Ao concluir, gostaria de ressaltar que, ainda que falemos de tantos processos, a conversão é, em definitiva, obra da graça de Deus e resposta livre do homem. Estas duas coordenadas nos dão os elementos para que façamos nossa reflexão, que foi que o que buscamos nas presentes considerações. Um elemento importantíssimo: cada conversão é uma história pessoal; daí a dificuldade para sistematizar os elementos da conversão.
    Conclusão. Como se está mal longe de Deus! As vezes as pessoas vão por aí como “Joãozinho feliz”, assim se expressava Joseph Ratzinger em sua “Introdução ao Cristianismo”. Joãozinho feliz, “como ele achasse por demais pesada e incômoda a barra de ouro que ganhara, trocou-a primeiro por um cavalo, depois trocou o cavalo por uma vaca, a vaca por um ganso e o ganso por uma pedra de amolar e mesmo esta ele acabou lançando na água, pois não se dava tento do prejuízo, pelo contrário: achava que tinha ganho, finalmente, o dom precioso da liberdade completa”. Quantas pessoas trocam a barra de ouro do encontro com Deus e da vida nova em Cristo por uma suposta libertade mal entendida! Essa historinha dá para pensar mais, deixo-a nas mãos do leitor.
    Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa, site presbíteros.
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